Quem saiba consiga viciar mais alguém?
E no final do livro ainda tem este texto, que "roubei"
Chico Anysio, por ele mesmo...
“Eu sou ruim em datas, haja vista que nasci em 1931, e minha
carteira garante ter sido em Abril de 1929. Por ter minha Irmã nascido no dia
primeiro de Julho de 29, e não sendo minha mãe um fenômeno capaz de gerar uma
criança em dois meses e pouco, tudo fica por culpa do cartório de Maracanaú,
que me mandou a certidão errada.
Nasci em
Maranguape, no Ceará, em um sitiozinho pequeno e simpático que ainda existe, e
que pertence a um parente-de um-certo modo Maranguape foi um pequeno paraíso, o
éden da minha infância durante sete gloriosos anos. Ali eu comecei a
entrar na vida, a conhecer o mundo e-
tão importante como- aprendi a ler sozinho. Com oito anos de idade, em um tempo
em que as crianças não tinham acesso aos problemas ou as decisões da família,
apenas me lembro do dia em pegamos um navio para o Rio.
Por acaso,
sou ator. Ator porque dois terço da minha vida eu dediquei a este trabalho no
qual um faz o papel de medico ou palhaço, de chofer ou milionário, de mendigo
ou pastor de almas, seja la qual personagem for . Isto e que eu faço.
O ano de 1957
foi especial para mim. Aconteceram muitas coisas inesquecíveis. Neste ano
estreei na televisão. Haroldo Barbosa me escalou para interpretar um tio
nordestino no programa Ai vem Dona Isaura, escrito por ele e estrelado por Ema D`Avila, na TV Rio. Sou homem de
televisão. Continuo fazendo meus shows nos teatros pelo Brasil, mas o primeiro
dinheiro e da televisão. Um show e feito para ser visto e ouvido, e não para
ser lido. Quanto mais perto da verdade eu estiver, mas perto do agrado eu me
ponho.
E, ainda me resta, no teatro, o direito de ir acertando o
espetáculo. Eu posso ir mudando, a cada apresentação, ate chegar ao ponto
desejado. Esta e uma vantagem enorme que o teatro da ao ator: o direito de se
corrigir. E esta e uma das grandes desvantagens do cinema... como ator de
cinema, atuei em algumas chanchadas, sempre fazendo pequenos papeis, porque não
tinha tempo, vivia ocupadíssimo. Passei parte da vida enfurnado na televisão ,
fazendo shows e escrevendo livros.
Quanto ao
humorista, geralmente estes começam imitando alguém. Comigo não foi diferente.
A minha vitima foi um professor de Frances que tive. Professores, alias, são um
prato cheio para qualquer aluno tirar um sarro. Com certeza, humor e uma
questão de gene, de genética. Todos os meus irmãos são muito divertidos, meus
filhos idem, ate o mais novinho, Rodrigo, que e meu e da Zélia, e engraçado.
Todos eles quando vem me visitar, sempre aparecem co piadas e casos engraçados.
Minha vida como
humorista profissional se iniciou no radio, paralelamente a minha atividade de
radialista. Eu já tinha uma facilidade em imitar vozes e conhecia o Jose
Vasconcellos. Foi nos programas humorísticos que tive a chance de atuar junto a
monstros como Grande Othelo, Chocolate, Batista Rodrigues, Luis Brandão, Dália
Garcia, entre outros. E aprendi que não se deve competir, quando se trabalha.
Os comediantes não dividem, somam.
Muita gente acha
que utilizo os velhos comediantes, em meus programas, simplesmente para
ajudá-los. Enganam-se. Utilizo-os muito mais por esperteza. Eles me ensinam
sempre. Hoje tenho 209 personagens criados, e os tiro da vida, do que meus
olhos vêem nas calçadas, nos campos de futebol, nos estúdios, nas casas que
freqüento, nos restaurantes. O mundo e minha inspiração. Não gosto muito dos
personagens feitos em cima de um bordão. Sei que este tipo de personagem
funciona porque o bordão e mais rapidamente difundido “pega” com maior
facilidade, mas, em contrapartida, a vida dele e bem mais curta. Ele “estoura”
depressa e muito depressa vira cinza. Parece absurdo dizer que um personagem,
pra mim, e um ser de vida paralela a minha. Já disse que não gosto de
personagem isolado, prefiro o grupo. Seria preciso um livro inteiro para fala
de todos, coisa que, alias, faz parte dos meus planos...
E por falar nisso, o Chico escritor surgiu por
insistência de minha mãe. Eu sempre desconversava. Que não sabia, não podia,
que não valia a pena, que ninguém publicaria, que não tinha tempo. A ultima
desculpa era a única e verdadeira. O livro era coisa que fazia parte do meu
ideal, mas não pintava tempo. Ate que deu. Combinei com Rubem Braga e Paulo
Rocco e, em 50 dias, escrevi 3 livros de
140 paginas cada.
As criticas, se
não eram maravilhosas, nunca foram desfavoráveis. Eu nunca tive a ousadia de
querer me comparar um desses monstros sagrados da literatura, mas eu tenho uma
vantagem sobre eles modéstia a parte. Soube dessa vantagem pelos
livreiros:
-“seus livros põem dentro das livrarias
pessoas que nunca entraram em uma. Vem gente que não sabe nem se pode tocar em
um, se pode abrir uma pagina e dar uma lida. E o mais importante, Chico: sempre
voltam, pedindo outro ou uma sugestão sobre o que devem levar para ler”
E eu espero que
este aqui seja mais um desses...”